Produtores participaram de cursos e capacitações e, agora, fabricam cachaça de maior qualidade
As cachaças em miniaturas são as mais procuradas pelos consumidores, pois servem também como objetos de decoração. A Associação vai construir uma Unidade de Beneficiamento de Cana-de-Açúcar, para aperfeiçoar ainda mais esta produção
Viçosa do Ceará No circuito turístico da Serra da Ibiapaba, um dos destaques é a cachaça artesanal produzida pela Associação de Produtores de Cachaça de Alambique do Estado do Ceará (APCAC). De acordo com o diretor financeiro da Associação, Cícero Pinheiro, hoje são 28 produtores na região do Vale do Lambedouro, que se beneficiam com as ações da entidade.
A cachaça é obtida a partir da moagem da principal matéria prima, a cana-de-açúcar, madura, sadia, recém-cortada e limpa. O engenho de Chico Gabriel está entre os pioneiros Fotos: Jéssyca Rodrigues
Segundo ele, a APCAC foi fundada em 2003 e nasceu devido à necessidade de buscar apoio em instituições públicas e privadas. Porém, a produção local é anterior a este ano. "Em algumas famílias, pode ser contada três ou quatro gerações de produtores. Com a APCAC, pudemos buscar financiamentos em bancos e contar com parcerias como a do Sebrae, que nos acompanha até hoje". Além dessas vantagens, o diretor explica que foi possível também a patente do nome Cachaça de Viçosa, e o selo de Agricultura 100% Familiar. "O rótulo agora leva o nome principal da Cachaça de Viçosa e logo abaixo o nome do produtor".
Na produção artesanal da cachaça de qualidade, o produto fica de um a dois anos descansando em tonéis de madeira para ter aroma e sabor característicos. Assim, demora mais para chegar ao mercado, porém a qualidade é assegurada
Para ele, o principal beneficiado com isso é o consumidor, que irá ter a garantia de estar comprando a verdadeira cachaça artesanal lacrada, assim como sua qualidade.
Aperfeiçoamento
Cícero diz que as parcerias foram fundamentais para o desenvolvimento dos produtores, pois possibilitou a participação em cursos de capacitação com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), parceiro do Sebrae.
Entre os cursos, a técnica regional do Sebrae, Lucileide Farias, aponta o curso de formação de alambiqueiros, de vendas e desenvolvimento pessoal, além de desenvolvimento empresarial e gestão empreendedora. Ela diz que, logo no início, era visível a dificuldade que os produtores encontravam para comercializar o produto, pois acabavam fazendo uma cachaça mais bruta, com alto teor alcoólico, em relação à de qualidade, que aproveita uma porcentagem menor da destilação e precisa de mais tempo para ser produzida. "Possibilitamos ao produtor adquirir o conhecimento sobre a cachaça de qualidade para o consumidor mais exigente, colocando seu produto no mercado com preço adequado".
Chico Gabriel mostra o processo de fervura da cana. Ele conta que suas atividades começaram na década de 50, plantando cana-de-açúcar para fazer rapadura
Para o presidente da APCAC, Jorge Maurício Nogueira, o intuito da Associação é que todos os produtores possam focar na linha da cachaça de qualidade, apesar do produto bruto. Segundo ele, a resistência está baseada no tempo de retorno financeiro das duas. "Na cachaça de qualidade, além de ser usada apenas parte da destilação, ela tem que ser envelhecida em tonéis de madeira por alguns anos. Já a cachaça bruta, apesar de ter um menor valor comercial, aproveita todas as partes da destilação e pode ser comercializada em um curto espaço de tempo".
Ele diz ainda que outra meta é o aproveitamento de subprodutos em outros seguimentos. "Queremos utilizar o bagaço da cana para a alimentação bovina e futuramente na queima dos fornos para substituir o uso da lenha. Poderemos usar também o vinhoto diluído na adubação de lavouras e complemento de ração animal, porque possui alto valor proteico".
O produtor Francisco Cardoso dos Santos, conhecido pela alcunha de Chico Bié, conta que suas atividades começaram na década de 50, plantando cana-de-açúcar para fazer rapadura. Ele diz que passou para a produção de cachaça na fábrica de conhecidos e, apenas em 1992, começou a produzir em sua própria fábrica.
Ele diz que sua meta é sobreviver apenas com produção da Cachaça Malandrinha com qualidade, embora produza o a variação bruta para pagar as contas. "Nossa cachaça passa mais de um ano em tonéis de madeira feitas com umburana, pau d´arco e aroeira para dar um cheiro e sabor característico".
O produtor conta ainda que doou 0,5 hectare de sua propriedade para a Associação construir uma Unidade de Beneficiamento de cana-de-açúcar. Segundo a técnica do Sebrae, essa unidade também conta com parceria entre APCAC e o órgão, pois será uma espécie de fábrica escola e que teve alguns dos equipamentos doados pelo Sebrae. "Primeiro os produtores que já fazem parte de Associação irão aperfeiçoar seus métodos e depois vão aplicar em seu próprio engenho. Assim outros poderão vir aprender".
De acordo com a Associação, o valor total da obra está em torno de R$ 242 mil e conta também com parcerias com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e Prefeitura Municipal de Viçosa. Conforme os produtores, hoje a Cachaça de Viçosa é comercializada em pontos estratégicos da cidade, como o Polo Turístico Igreja do Céu, e nos próprios engenhos, além de eventos como o "Mel, Chorinho e Cachaça", que acontece normalmente em abril, e o Festival de Música de Viçosa, que irá ocorrer de 21 a 28 de julho.
Alguns produtores, como Expedito Silva de Sousa, contam ainda com outras pessoas que levam a cachaça para vender em outras localidades. Ele disse que assumiu a produção de cachaça após o falecimento de seu pai, o primeiro produtor da família, e busca melhorias como começar sua produção de cachaça de qualidade este ano.
"Primeiro fiz um empréstimo para melhorar o engenho. Agora, as melhorias são feitas com recursos próprios e acabei de adquirir meu primeiro tonel de madeira para envelhecimento da cachaça". Para ele, o apoio da associação foi vital. "Graças a ela participei de cursos e aprendi a como melhorar minha produção a fim ter um produto de maior qualidade".
Mais informações:
Sede da Associação de Produtores de Cachaça de Alambique do Estado do Ceará (APCAC). Sítio Degada, BR 222 Km128, Viçosa do Ceará
(88) 9929.4096
JÉSSYCA RODRIGUESCOLABORADORA
Fonte: Diário do Nordeste
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