No ano em que o escritor baiano completaria 100 anos, única homenagem na capital baiana está cheia de lixo, pichada e enferrujada
No ano do centenário de Jorge Amado (1912-2001), o único monumento em Salvador em sua homenagem apresenta péssimo estado de conservação. Inaugurada em 1985, a escultura fica na avenida que leva o nome do escritor, no bairro Imbuí. Há dois anos, a praça que margeia essa via foi revitalizada pela prefeitura. No entanto, a obra, que fica a cinco metros dessa área, não recebeu qualquer retoque.
O cenário é desolador. Lixo espalhado ao redor e dentro do monumento. Estrutura pichada, desgastada e enferrujada. As máquinas de escrever que ladeavam a escultura foram roubadas. As letras que compõem a obra estão sujas.
Intitulada "Ode a Jorge Amado", a escultura, cujas dimensões são dez metros de altura por seis de largura, tem estilo modernista e é formada por chapas soldadas de latão, sucata de ferro e concreto.
"O monumento está completamente abandonado. Vejo com muito pesar essa situação. Pelo jeito que está a escultura hoje, não vejo interesse do poder público em restaurá-la. Mas espero que surja vontade e recursos para isso", afirmou a diretora-executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, a escritora Myriam Fraga.
"Rosa nem gosta de falar sobre o estado atual da escultura", afirma Myriam. A mulher a quem a escritora se refere é Auta Rosa, viúva do artista plástico Calasans Neto (1932-2006). Grande amigo de Jorge Amado - que o chamou de "baiano fundamental"-, Mestre Calá, como era conhecido na cena cultural do Estado, foi quem esculpiu o monumento. Calasans Neto ilustrou diversos livros de Amado, além de ter feito gravuras que evocam o universo do romancista. Myriam Fraga diz lamentar que um dos símbolos da amizade entre os dois esteja tão deteriorado.
Neto do escritor, João Jorge Amado Filho, o Jonga, é mais um que está descontente com a situação da escultura. "Está muito ruim. Aquela avenida [Jorge Amado] foi reformada, mas não fizeram nada com o monumento, que é muito importante, um marco histórico", declara. "Espero que a prefeitura o restaure para o dia do centenário, em 10 de agosto."
Os insatisfeitos não se limitam àqueles que têm ligação próxima com o autor de "Tieta do Agreste" e "Jubiabá", entre outros clássicos. Moradores do Imbuí reclamam do abandono da obra de arte. "É uma tristeza danada ver esse monumento tão largado, sujo. A prefeitura deveria cuidá-lo urgentemente", clama a comerciária Patrícia Teles, de 33 anos, que reside há quatro anos no bairro.
O universitário Kleber Santos, de 20 anos, mora no Imbuí há uma década e diz desconhecer o que é a escultura na entrada do bairro. "É em homenagem ao Jorge Amado? Não sabia. Ele foi uma grande figura brasileira, merece um monumento melhor." O bancário Tarcisio Almeida, de 29 anos, conta que há três anos - desde que foi morar ali - a obra está se desgastando a cada dia. "Está mesmo precisando de restauração e conservação."
O gerente de sítios históricos da Fundação Gregório de Matos - órgão municipal que cuida da cultura soteropolitana -, Marco Antônio da Rocha, é enfático ao comentar sobre o monumento. "Está totalmente desfigurado. Não representa mais o projeto inicial, não significa mais nada." A fundação é a responsável pela escultura.
De acordo com ele, a obra está tão combalida que é melhor produzir um novo monumento do que reconstruir o atual. Porém, essa ideia ainda não saiu do papel. "Temos esse projeto. No entanto, não há verba. Estamos sem previsão de quado será feito", declara Rocha, que acrescenta: "A nova escultura pode ficar no lugar da atual. É possível que a gente faça concurso para escolher a forma do monumento".
As diversas gestões da Prefeitura de Salvador não reformaram o monumento ou por falta de vontade política ou por falta de verba ou por esbarrar em trâmites burocráticos, como a lei dos direitos autorais - qualquer interferência deve ser feita com a anuência dos herdeiros de Calasans Neto.
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