Qual cearense que não conhece o significado de “sarapatel”, “sarrabulho” e “panelada”? Muita gente não abre mão de se deliciar com tais opções diariamente. Mas será que essas comidas prejudicam a saúde?
A nutricionista do Hospital da Messejana e professora da Unifor, Armênia Uchôa de Mesquita, explica que as preparações, quando consumidas com moderação, não irão prejudicar a saúde da população. “Mesmo estes pratos ricos em colesterol, cuja moderação seria uma vez ao mês e numa quantidade adequada, não influenciarão de forma demasiada a saúde”, disse.
Mas, de acordo com a nutricionista, há um prato típico do Ceará que auxilia a saúde: o conhecido baião de dois. “É uma mistura adequada e pode ser consumida diariamente. Lembrando que não se deve adicionar queijos, toicinhos e outras carnes quando o consumo for diário”, alerta. De acordo com a nutricionista, não só o cearense esta se alimentando inadequadamente. “Os fatores que estão levando a este fenômeno são diversos: a globalização, a inserção da mulher no mercado de trabalho, as demandas do mercado de trabalho, o preço dos alimentos, a propaganda sobre alimentos”, pontua.
Atentando para o fato de que todos devem procurar ter uma alimentação saudável, Armenia Mesquita declara que não custa caro nem é difícil de realizar uma boa dieta. “Todos os dias devemos nos alimentar de pães, arroz, feijão, frutas, carnes e beber em média dois litros de água. Evitando sarapatel, buchada, rabada, mão de vaca, feijoada, panelada, leite gordo, queijo gordo, frituras, vísceras, nata, temperos industrializados, enlatados e embutidos”, esclarece.
Confira a tabela com as comidas típicas e orientações:
Histórico
De acordo com Armenia, as escolhas alimentares são baseadas no contexto histórico, além do clima e posição geográfica. O Ceará é um estado que tem um vasto litoral e o sertão ocupa a maior parte do território, além do clima ser seco e quente, ainda há uma economia depende de fatores climáticos. Mesmo levando em consideração tudo isso, “temos ainda que levar em conta a nossa colonização”.
Segundo a nutricionista, o povo cearense sofreu forte influência das práticas alimentares dos colonizadores portugueses, além dos escravos africanos, em menor escala. “Os portugueses trouxeram ao Brasil animais como bois, vacas, touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas, patos, gansos e outros que criavam nos quintais e currais que faziam em suas fazendas. Além disso foram os responsáveis por plantar uma enorme quantidade de frutas, legumes, vegetais, cereais e temperos”, conta.
Além disso, a cultura indígena também foi fundamental nos hábitos alimentares atuais. “Nossos índios consumiam a mandioca como alimento base e compunha muitos dos alimentos que sustentavam os brasileiros de então, produziam o beiju e a farinha”, relata. De acordo com Armenia, o hábito de plantar frutas não era comum entre os indígenas, já que dispunham fartamente de uma grande oferta natural. Eles também faziam caldos, bebidas e mingaus com o cozimento da banana-da-terra ou pacova.
“Outro alimento base da dieta indígena eram os peixes que se aproveitavam cozidos ou assados. Eram assados inteiros não eram esvaziados e nem escamados antes. Produzia-se também a farinha dos peixes. Já com relação às caças, eram assadas com o couro e comidas semicruas”, fala.
Já os negros, na condição de escravos, como não podiam escolher quanto nem o que comer, acabavam criando e adaptando de acordo com aquilo que lhes era oferecido como sustento. “Com a farinha de mandioca adicionada ao caldo fervente descobriram o pirão. O milho também foi marcante na alimentação dos escravos negros e dele surgiram pratos como o angu, um mingau mais consistente que o pirão, que era preparado com água e fubá”, afirma.
Fonte: Jangadeiro Online
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